Partir as pontes...



E de repente vou entrando em modo anestesia. Começa com uma dor, uma dormência que formiga e pica. Me incomoda e luto contra ela, mais agora que já conheço o prognóstico.
A seguir uma inércia, uma apatia que me rouba a vontade de tentar. Lutei, e se não tive forças, é porque já é inevitável.
Nesta fase me apercebo do caminho que estou a seguir, vejo que ainda há chances de voltar atrás, e tenho duas escolhas: dou marcha trás e repito o ciclo que me levou até ali, ou simplesmente destruo a estrada, quebro as pontes e impossibilito meu caminho de volta.
Eu sou teimosa e emotiva, volto atrás, repito, bato na mesma tecla, em algum momento o enter vai funcionar. Insisto já nem por mim, mas porque sei que vou magoar quando desistir. O mundo não está preparado para nós, pessoas que esquecem.
Acreditam que o rancor, a raiva, o amor... qualquer sentimento, nem que seja o de culpa nos vai fazer ficar.
Um dia apenas já só oiço minha própria voz, já estou a gritar no vazio da indiferença alheia. E neste momento, sem pausas para reflexões, eu parto tudo. Quebro as pontes que me fariam voltar atrás. Já tenho ausência total de dor, de alegria, de sentimentos. A dormência progrediu e agora a analgesia é total. Nem para bem ou para mal...
Um dia assistindo as "Pontes de Madson" me revi, acredito que todas nós nos revemos ali. Sim, eu teria ficado no carro, não, eu não teria seguido caminho com o outro. Mas jamais teria continuado no vazio, na raca da ausência de sentimentos.
Eu preciso falar, ser ouvida e mais do que isso, não posso conviver com apenas o tom da minha voz. Talvez eu não seja tão auto em mim quanto penso.

Assino eu a Mãe que é mulher, é autista e que é passional como todo neurodivergente.

Eu sou feliz e grito para todo mundo ouvir!!


Depois da tempestade sempre vem a bonança, esta é a esperança, até para os mais céticos. Quando tudo vai mal, por mais triste, desencorajado e perdido alguém esteja, a crença de que "pior do que está não pode ficar" ou "amanhã é outro dia e a chuva vai passar" faz-nos conseguir viver.

Mas e o contrario? Será que depois da bonança, vem tempestade?

Em Cadiz, a cidade espanhola que morei, havia uma expressão meteorológica muito interessante: "vento de levante", dificilmente alguém lá não identifica quando ele vem..
Começa com um ar mais seco, um calor que literalmente vem do Saara. Nada prevê que virá, mas quando vem, sabemos o que precede.
O ar seco, sem um sopro. Que calor!!!
Estamos em uma suposta paz, um silêncio da natureza, sem as forte ondas ou o movimento das folhas das árvores, e em segundos começa o"Levante".
Um vendaval vindo de um anti ciclone da Europa, forte com areia a voar, o mar revolto.. 

Quando uma coisa boa nos acontece, queremos cantar, gritar aos 4 ventos e espalhar a notícia. Estou feliz!!Tudo deu certo!!  Ou... estou quase conseguindo!
E alguém com palavras que aparentam sabedoria diz: "Não conte a ninguém para que não haja mal agoiro!" "Cuidado porque se contar não acontece!".

A tempestade não virá porque você contente festeja. A tempestade vem porque nuvens se formam, ninguém controla quando o vento muda de direção.

Conte as boas novas e dê testemunho do que de bom te acontece, faz bem a você que comemora a vitória e pode servir de exemplo a quem esmorece e precisa sair da tempestade.
Se no fim não foi exatamente como esperava, se uma fatalidade acontecer, ao menos comemorou o hoje.
E quando o tempo estiver seco e quente, e nenhuma folha se movimentar para refrescar seu trabalho? Quando tudo aparentar ir de mal a pior, lembra que a qualquer momento pode vir o vento de levante e este vento é o que mais peixes leva à costa de Cadiz.

O que é ter um enteado, como é ser a Madrasta?

Toca agora a musica que mais cantamos juntos, ele e eu, e senti meu coração se apertar um bocadinho. Sabe aquele sorrir por pensar em alguém?
Ele hoje tem 6 anos, erra as palavras enquanto canta, não sabe dizer melanina, já lhe expliquei 509 vezes mas sempre erra... 😁
Escolhi amar como meu, independente de amanhã, o hoje faço para sempre. 

Ter um enteado é ser a madrasta, aquela que não corrige porque isso é coisa do pai, mas que educa com o exemplo. Mando para cama, insisto para que lave os dentes DE VERDADE!! Oriento como uma professora ao aluno.

Preocupo-me como mãe, tal e qual aos meus 3 filhos, com a mesma paciência. 

Ter um enteado é trazer alguém para dentro do que antes era apenas minha família, é não ter apenas meus filhos. É ouvir tua filha dizer aos coleguinhas quando convidam para a festa de aniversário, posso levar o Afonso?? E sim, todos sabem quem ele é... é o nosso irmão, nosso filho, aqui é tudo NOSSO!

Os irmãos brigam? As vezes desentendem-se, discutem e obviamente o pai ou eu atuamos, nenhum é mais protegido... o foco é: Estão a brincar sozinhos, não conseguiram resolver um problema e brigaram? ESTÃO TODOS ERRADOS!
Se vejo que um está mais exaltado trato de chamar para outra atividade... do tipo... "quem não tirou o prato da mesa??" As vezes basta 1 segundo afastados para acalmarem-se.

Ter um enteado é ter avós, tios, cães, casas extra, para ele e para nós. Quanto mais gente boa a nossa volta, melhor!

É ouvir os avós que são dele e do Jorginho (que nasceu desta relação) perguntarem quanto calçam os meus e eu fazer questão de lembrar que o pé do Afonsinho cresceu. É meu pai vir de férias do Brasil e perguntar, qual o tamanho do pé dele? Ele é assunto cotidiano, e não só ele, mas as famílias adoratam-se entre si.

É regar uma plantinha que vem com arestas, umas ramas tortas que com respeito envolvemo-nos até que se encaixe.

Tenho ciumes do meu marido com o filho? Nossa!! Eu tenho é um orgulho brutal... na verdade foi o que fez-me apaixonar à primeira vista. Estava com o filho quando nos conhecemos.
Sou a que mais insisto para que compre o melhor para ele, insisto para que em nossa casa ele tenha as coisas todas que precisa, acho terrível ter que trazer e levar todo fim de semana de uma casa para outra.
Aqui é a casa, aqui tem tudo o que precisa. Insisto sempre que a prioridade são eles os 4, Jorge, Pedro, Afonso e Joana... todos tem igual. Se é o melhor para um é o melhor para os 4. Se menos para um, menos para os 4.

É preocupar-se com os trabalhos que a escola envia para fazer em casa e se os livros estão cuidados e sem orelhas.

Em resumo... é ter um filho que não nasceu de mim e será meu até que a morte nos separe porque não faço planos de pedir meu marido para que saia de casa.
Para se afastar da alcateia, é preciso maltratar muito esta loba aqui...

Se Deus o livre deixar de ser, agora não me interessa... Foco no hoje porque para mim "Basta a cada dia o seu próprio mal". :)
Porque te amo, com carinho, tua Mãedrasta. :)

Valorize quem te ama tanto...


Pedrinho tem me dado uma media de 2 beijos a cada 10 minutos... e ontem, caminhávamos pelo calçadão da praia aqui de Cascais. Como a maioria sabe eu tenho autismo #Asperger, assim como Joana e o Pedro ( #orgulho #tea ) e no meio de tanta gente ao fim da tarde, eu estava aflita, ansiosa, segurando as mãos do meu marido porque nessas horas eu evito caminhar olhando para frente. A ansiedade me deixa mesmo com raiva, zangada... mas sou "gente grande" e me controlo como é óbvio. Pedro, Joana e Afonso iam em bicicleta à nossa frente passando pela ciclovia... Pedro de tempos em tempos vinha dar-me um beijinho e corria de novo.
Em uma destas vezes eu disse, "Para Pedro, chega de beijos!"#maedesnaturada 
Não eram os beijos que incomodavam, eu é que estava ansiosa, fico mesmo diferente com tanta gente. A partir dali Pedro  começou a fugir e ir mais rápido que os irmãos... Joana e Afonso iam atrás dele, Jorge pai empurrava o carrinho do Jorginho, e eu aflita ia atrás dele... não tardou muito o inevitável aconteceu. Caiu e feriu a sobrancelha, um corte que vai deixar uma cicatriz bonita para ele se lembrar.
Ali, com sangue as pessoas ficaram muito prestativas. Uma senhora correu para o socorrer, eu de trás já dizia : "Não lhe toque por favor!!" (Já pedindo desculpas à generosa senhora) Tinha medo que reação dele agravasse a ferida.
Graças a Deus eles usam capacete, escolhemos uns para patins que são maiores e protegem mais a cabeça do que os que se usa para bike.
Com muita calma comprimi a ferida, fiz um curativo.
 Ficou como se nada tivesse acontecido, ele está bem...

Depois de tudo acontecer, lembrei do gatilho, como a rebeldia começou.
Sinto uma pontinha de culpa é claro, mas fiz questão de deixar claro, "Pedrinho fez doidoi porque desobedeceu e fugiu".
Nós acertamos, erramos, somos gente... Agora estou aqui, ansiosa para que chegue e me encha de beijinhos.

3 Desejos Coloridos, da Marisa Silva.



Adoro receber esses miminhos, e gosto mais ainda de participar de alguma forma do crescimento de gente trabalhadora, que não baixa os braços, que se inventa e reinventa, mulher que faz!

O que mudou? Ele já não me ama?


E um dia você começa a se esconder, a ter medo de deixar ele triste, e vive para tentar agradar. Sente que é a pessoa mais sortuda do mundo, que sorte a tua ele querer estar do teu lado, afinal você é assim, sei lá... cheia de defeitos.
Ele te chama chata, você se irrita, depois você pede desculpas, e ainda se culpa. Começa a se auto vigiar para ser do jeito que ele gosta.
Ele pode até nem se importar com o batom e a saia curta que você usa, você está ali só para ele e ele sabe.
Um dia chega tarde, você com ciumes cobra. Ele se zanga, você pede desculpas.
No outro dia ele não gosta da comida, carne moída de novo??? Você se sente culpada... para onde vai o dinheiro da casa? Você se culpa por não contribuir o "suficiente" com as despesas... ou não lhe dá tudo que ele queria. As férias que ele sonha o hotel o passeio, a vida sem você seria melhor, teria menos gastos, poderia sair quando quisesse, mas está com você, que caridoso ele é.
Você vive para fazer este homem sorrir e para isso faz o que for preciso e quando não acontece seu mundo desaba.
Ele chega a hora que quer, ignora sua carência, diz que você está pior. "Quando te conheci você era outra" tinha um corpo.mais bonito, te chama de publicidade enganosa.
Você se culpa.
Ele nunca te bateu, mas teu mundo é um abismo onde você não existe, não quer conviver com mais ninguém porque ser feliz é estar com ele. Tua dependência é total e teu medo de perder te faz sentir culpada por ser tão carente ou por não saber agir como ele gostaria.
Amiga ou amigo, isso é violência. É uma agressão e por mais que te doa, você precisa se limpar desta sujeira, esta crosta na tua alma. Vai doer, a cicatriz não será o fim, as marcas ficam para sempre, mas eu espero que enxergue, este caminho que você segue não tem final feliz.
Não é o que Deus quer para você, não é teu carma. É uma semente mal plantada que você se permitiu germinar. A culpa é tua? Como diria Renato Russo, " E nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa".  Já não interessa quem errou, não escolha ter razão, escolha tua paz. Se permita voltar a viver e a redescobrir o que realmente é viver sentindo-se em TUA casa.

Se alguem tentou ou conseguiu apagar você, aproveite o quadro que se gerou e reescreva a historia da tua vida, você consegue!

A Nordestina que está a conquistar Portugal



Dona de um olhar carinhoso, braços fortes e uma postura de mulher que enfrenta o que vier, com largo sorriso nos veio receber. Jóvem senhora mãe de família que, ao lado de seu marido, o Chef, são os proprietários deste mais que charmoso restaurante em um casarão com centenas de anos de história, em Lisboa. 

Chegamos meia hora antes da nossa reserva, cerca das 19h, e já se notava alguma fila à entrada, casa cheia em plena noite de quinta-feira.

Por fora o lugar fazia-me lembrar um dos teatros da baixa em Lisboeta, por dentro, um restaurante típico Lusitano, daquele "à bruta" como se costuma dizer.

Ela de boca cheia contou, "sou nordestina, de Natal!". Que orgulho senti, AMO ver gente da minha pátria Brasil lutando e vencendo em solo luso. 
O marido é Português e ela fez questão de dizer, estou aqui só por amor à ele, as saudades da minha terra são muitas.

 Acomodou-nos em um espaço mais reservado, especial para nós, a mesa VIP em plena noite de dia dos namorados. Estávamos com Jorginho recém nascido, carrinho de bebé e biberons, Joana com 6 e Pedro com 4 anos. Crianças em meio aos namorados, nem sempre são bem-vindos, mas ali não, todos muito receptivos.  




Já há algum tempo nos haviam convidado para lá ir, mas ao contrário dos tantos convites que recebemos, em nenhum momento pediu publicidade. De coração grato, apenas queria retribuir o que segundo ela tem aprendido com meu trabalho, senti-me tão amada, difícil explicar. 


A Comida

Uma ementa maravilhosa, e possível de confeccionar. Normalmente quando chego em um restaurante e vejo o menu com milhares de propostas, vem-me logo a ideia de que vou comer comida congelada, tudo fresco e feito no dia.

Vi que haviam menus para almoço a partir dos 8€, e ementa com tudo incluído por 12€.
Só para vos abrir apetite, cito... Chanfana de Borrego, Entrecosto com migas e Alheira, Lulinha fritas à algarvia e por aí vai.




Eu que sou uma apaixonada por tintos, me rendi à proposta do simpático garçom que insistiu que devíamos provar, e valeu a pena, bebemos a sangria, de espumante e frutos vermelhos, bagas silvestres... "eu mesma preparo" disse a proprietária orgulhosa. Mas realmente, MARAVILHOSA!! Ainda bem que aceitei a sugestão. 

Para entradas provamos um Vou-au-vant com salada de camarão, o prato insisti com meu marido, "ela é nordestina amor, você tem que provar a Moqueca de Camarão", deve ser boa, e foi mais que isso. 


O Espaço

Dois andares de restaurante, o andar de cima estava a ter um evento, mas fui espreitar, a decoração renovada mas mantendo a arquitetura original, com uma cúpula no teto. Pelo que percebi, um espaço para cerca de 50 pessoas, com entrada independente, que passava por um pátio elegante que sinceramente espero que no verão esteja a ser aproveitado para uma boa explanada. 




Ao que se sabe, existe desde 1622, pode ler mais aqui.

Onde estávamos, via-se a cozinha, tudo impecavelmente limpo e à vista de todos. 
Musica ao vivo, com uma gostosa melodia voz e guitarra acústica. 

O espaço como disse antes, uma mistura de tipico português com o medieval búlgaro. Mesas quadradas em madeira e tudo a condizer com o ambiente. 

Como mãe, uma das coisas que me preocupa são as casas de banho, e sim, impecável e com fraldário. Joana perguntou "posso sentar mamã, está tão limpinha?" Se Juju aprovou, está aprovado! 


O Staff

O olho do dono engorda o gado, e ali via-se que apesar de tantos funcionários, a Dona Aline (como lhes chamavam os garçons) estava 100% no comando. 

Jorginho chorou, Pedrinho pediu luvas de borracha, Joana tinha formigas na cadeira ou sei lá o que, e não parava sentada, mas... todos muito simpáticos, sorridentes e pendentes de nós. Nada de caras feias aos meus pequenos. Ali a prioridade era sem duvida o nosso conforto e atendimento. 

Notei que os clientes estavam bastante a vontade, suspeito que sejam uma clientela fiel, com alguma assiduidade. Não fosse eu viver em Cascais, com certeza absoluta, seria um deles.  

Tenho muito mais a referir, mas o melhor mesmo é irem conferir. 

Ao Chef, infelizmente não tivemos a oportunidade de lhe dar os parabéns pela maravilhosa comida, saímos cedo, com as crianças não podíamos estar muito tempo, principalmente a meio da semana, mas foi sinceramente um prazer, obrigada. 

Reservas 214 017 564 - 934 121 104
Rua Santo Eloy, 2
Pontinha, Lisboa, Portugal
www.velhomirante.pt












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