O Silêncio que escolho.


Tenho aquela memória silenciosa da minha infância, do isolamento mental.

Tínhamos um baloiço em casa, ficava ali horas seguidas ao fim da tarde. Ainda consigo sentir a melancolia da penumbra, uma nostalgia constante de sei lá oque, que me dizia que já eram horas de vestir-se para ir à igreja. Todos os dias de segunda à segunda.
Lembro de vigiar as 3 Marias no céu, enquanto pensava se ainda estariam ali amanhã.

Silencio mental, eu via tudo, ouvia e falava pouco, minha cabeça escrevia uma história, tentando interpretar o que eu aprendia.
O nada me conforta, som de pouco ruido, constante e sem alterações.

Comecei a trabalhar ainda muito cedo, não me lembro de uma idade desde antes dos 6 anos em que não ajudasse meus pais na fábrica, depois na instituição. Aos 16, 17 anos trabalhava noite e dia como vendedora ambulante, me sustentava. Depois com a faculdade de medicina, o trabalho era mais intenso em dias pontuais, feriados , férias, fins de semana.

Cresci observando. Vendia aprendendo o comportamento e tons de voz. Sozinha no que fazia, o isolamento que tanto cultivei. Os momentos a sós alimentavam minha alma, enquanto a obrigação empurrava-me para o que tinha que ser feito.
No balanço da minha vida eu ia sentada, sozinha, vendo tudo de cima como quem assiste, mas ao mesmo tempo a inercia do ponto em movimento, com o girar da terra, das horas, dos meus dias, da existência, impulsionava o avante.

Auto em mim, mas sempre aqui, no mundo em que todos estão.
Stephanie Matos #autistaéamãe #autoemmim   #maedefamilia #TEA
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